Neste ano de 2021, os alunos do Clube de Escrita Criativa produziram muitas obras, externando sentimentos, desejos, alegrias e desafios. Além de apreciar a leitura de alguns desses textos, abaixo você encontra suas gravações, com interpretação dos colegas de aula. Esse é o nosso olhar para a escrita criativa.
Cacto de Cabul
Pensem nas crianças
Tão cedo alienadas
Pensem nas meninas
doutrinas inexatas
Roupas alteradas
Pensem nas feridas
Como laçadas árduas
Mas ah não se esqueçam
Da flor do cacto
Do cacto de Cabul
O cacto islâmico
O cacto extremista
Estúpido e intolerante
O cacto com mentiras
A anti-flor do ódio
Sem cor e sem perfume
Sem flor, sem nada.
Pedro Reche
Poema
Caminho dançando por uma estrada
Por onde andei, já está pavimentada
Então, quando me viro para trás
Vejo o progresso, e sei que sou capaz
Continuo, seguindo sempre em frente
Respiro, canto e danço alegremente
Por onde passo, espalhando cimento,
Parte natural de meu movimento
À frente, ela não é pavimentada
Já não vejo nem placas, nem sinais
Mas sei que quieta não ganharei nada
Retomo minhas forças de repente
Para a dança, só preciso de instinto
Então volto àquela música recorrente.
Luana Oliveira
Como baleias, que passam a vida inteira subindo ao ar para respirar e se manterem vivas por mais algumas horas, humanos vivem evitando a morte. Mas enquanto elas eventualmente se tornam velhas demais para continuar subindo e sucumbem ao fundo do oceano, nós fazemos tudo o que é possível para nos mantermos firmes no chão, sabendo que eventualmente sairemos flutuando. Mas por que fazemos isso se todos os dias olhamos para o céu e desejamos alcançar as estrelas? O frio do espaço nos parece ser tão maior que seu brilho, que nos impedimos de deixá-lo buscar-nos. Então, nos mantemos presos ao chão, sonhando acordados com cores que nunca veremos aqui, mas fazendo o possível e o impossível para fugir do desconhecido. Eu não quero isso, quando a hora chegar, vou simplesmente levantar meus pés do chão, flutuar lentamente em direção às nuvens e deixar meu corpo repousar sobre elas para depois subir, cada vez mais alto. Vou fazer meu papel, alcançar as estrelas e experienciar todas as cores que eram impossíveis, vou aceitar meu destino pois entendo que nada é em vão. Por fim me transformarei, minha vida se tornará uma nova cor e todos terão mais uma estrela pela qual ansiar.
Luana Oliveira
Malefícios de ter um coração
Maquiavel me perguntou
Ser amada ou ser temida?
E eu, como esperta que sou
Escolhi não ser traída
Envolvida nessa maracutaia
Aprendi a disfarçar
Escondi o amor de baixo da saia
E não fui pega no radar
O borrachudo bolo abatumado
Me fez saborear a sensação
De amar sem ser amado
E parece um eufemismo dizer que
Escapar era o jeito menos concorrido
De reembolsar o tempo perdido
Isabeli Vieira
O RIACHO POR DEBAIXO DA MANGA
Foi hoje de manhã. Eu acordei, me levantei da cama, vesti a minha roupa. E logo pensei, nossa, como tá frio. Corri para o banheiro e rapidamente olhei para o espelho. E assim que eu liguei a torneira, aquele fiapo de água sorrateiro encontrou um espaço entre a minha pele e a roupa. Ele parecia saber exatamente o que estava fazendo e onde estava indo. Eu estremeci com aquela água gelada que percorria lentamente todo o meu antebraço, como se o tempo parasse e só ela existisse. Fiquei em dúvida se deixava secar naturalmente ou se pegava uma toalha e enxugava logo a minha manga. Eu respirei fundo e decidi que aquele pingo d’água, que mais parecia um riacho, não arruinaria meu dia.
Hora do almoço. Comi aquela comida quentinha de mãe, sabe. E depois de 30 minutos, a declaração veio. Eu teria de lavar a louça. Que droga, jurei que tinha me livrado. Mas assim que eu me direciono na direção da pia, a torneira me encara de uma forma nada gentil. Eu já sabia o que estava por vir. Mas não deixei que ela me intimidasse. Eu já tinha sofrido de manhã, ela não me ganharia dessa vez. Depois de lavar alguns pratos, eu sinto aquilo. Aquilo mesmo. Aquela aguinha desgraçada descendo pelo meu pulso. Ela tirou o dia para me incomodar, com toda a certeza. Mas eu continuo lavando a louça na força do ódio e terminei. E ela não me importunou mais…
Isabeli Vieira
Amadurecer: a bagagem da evolução e do crescimento
Amadurecer, evoluir, crescer e mudar. Palavras que não são sinônimos, mas estão muito ligadas. Estamos sempre em processo de mudança e nem percebemos, é algo tão natural que às vezes só percebemos quando paramos para pensar em coisas que antigamente fazíamos e hoje não fazemos mais. Mudar não é necessariamente evoluir, mas evoluir é obrigatoriamente mudar.
Quando falamos em amadurecer, estamos dizendo que não somos exatamente os mesmos que éramos antes e que temos outra percepção de algumas coisas. Em certas etapas da vida é possível perceber essa mudança, desde criança quando começamos a dormir sozinhos sem precisar de nossa mãe, até adolescente quando sentimos vontade de descobrir novas coisas tal como beijar, beber, ir em festa, sair sozinho, entre outros. E assim vai acontecendo, quando passamos a fazer novas coisas e concluir etapas.
Amadurecer é encerrar ciclos, ver as coisas de outros ângulos, é ter consciência de que em alguns momentos vai ser tu, por ti, e que não vamos sempre ter alguém para consertar as coisas que fazemos. É perceber que errar faz parte e principalmente aprender com o erro, é ter a responsabilidade de levar a culpa pelo o que fizemos de errado.
Esse processo é feito de etapas, alguns têm uma maturidade além de sua idade, isso pode ser uma característica natural da pessoa como também pode ser um instinto de necessidade, aquilo que veio junto com a resiliência e a independência. Amadurecer nada mais é do que crescer e não tem como ser medido, porque isso é o conjunto de personalidade, criação, convivência e aprendizado.
Chiara Lopes
O ESCURO
Humanos, com tantas ideias e medos bobos. Estou aqui o tempo todo observando de cada canto o comportamento de cada um. É interessante ver o que eu posso causar neles sem nem ao menos ter uma forma física.
Estar em todos os lugares me deixa exausto, ainda mais quando ouço crianças chorando por medo de mim e que fazem suas mães gastarem caro na conta de luz. Muitos juram que comigo carrego maldições que eu nem ao menos conheço. Hoje mesmo, estava no canto inferior de uma mesa baixa quando vi uma garota lendo um livro sobre espíritos que se escondem me usando de fortaleza. Quanta bobagem!
Eu sou simpático, mesmo não sendo tão reluzente como os diamantes que se perdem nas cavernas onde eu habito. Consigo fazer bons amigos, mas humanos e fogo estão longe de serem meus favoritos. Gosto de chuva, da noite e principalmente de maratonas de série. É um dos únicos momentos em que me sinto realmente amado, afinal são nessas horas que sempre reclamam da minha inimiga luz.
Não sei ao certo por quê, mas mesmo com tudo isso gosto de quem eu sou. A noite eu sou aconchegante e inocente, as pessoas que criam histórias para se assustarem e colocam a culpa em mim. Mais que tudo isso, não entendo as pessoas que se sentem sozinhas, afinal é só colocar um filme de terror para assistir junto comigo que a solidão acaba no mesmo instante que o filme completa duas horas.
Luísa Elesbão
esperança.
é a única coisa mais forte que o medo. É o que resta de mais valioso depois de tudo ter partido. A sensação de reencontrar algo que estava perdido no fundo do poço, talvez o próprio espírito. Um pouco é eficaz, muita é perigoso.
Uma revolução pode ser feita com isso, desde que seja colocada de maneira certa.
Luísa Elesbão
Como vai ser o futuro?
No meio da noite
perdida em meio aos meus pensamentos
começo a me perguntar sobre o meu futuro
Será que irei ter um bom futuro?
Será que vou arranjar um bom emprego?
Será que vou conseguir conquistar meus objetivos?
o mundo vai ser melhor?
Logo em seguida, a ansiedade ataca
e o sono se dispersa no meio do silêncio gritante do quarto
Mesmo não sabendo as respostas das minhas dúvidas
ainda sigo a vida
tentando sempre melhorar para alcançar meus objetivos
pois, se não continuar, como irei ter um futuro?
e agora eu te pergunto
Como vai ser o seu futuro?
Fernanda Farias Uberti
A primeira vez em que andei de avião
Tudo começou no início de dezembro de 2015, quando meus vizinhos convidaram eu e minha família para ir para a Bahia. Quando meus pais me contaram que íamos para Bahia quase surtei, pois seria a primeira vez que eu andaria de avião, nunca tinha ficado tão ansiosa assim na minha vida. Eu ficava contando os dias, as horas, os minutos e os segundos para ir viajar. Na época eu tinha 11 anos de idade, mas me sentia a própria Sharpay Evans, toda metida que ia viajar de avião, e claro, com deboche espantando na cara, até porque, se não tivesse deboche, logo não seria eu ! Não via a hora de ir e também de voltar e contar para meus amigos que “EU ELOYSA, ANDEI DE AVIÃO”.
Meus pais não me aguentavam mais, na real não nos aguentavam, pois seria a primeira vez do meu irmão também. Desde o primeiro dia que soube que íamos para Bahia, minha mala já estava pronta, com vários conjuntinhos e biquínis, e um chapéu que eu não gostava, porém minha mãe falou para levar né, e eu não sou louca de desobedecê-la, ainda mais sabendo que ia viajar, tinha medo dela não me levar hahaha (esse riso, na época era de nervoso).
Até que chegou o dia tão esperado, nosso voo era de noite, ao longo da viagem fizemos uma parada em São Paulo e depois fomos direto para Bahia. Mas antes de chegar, preciso contar como foi entrar no avião, eu estava nervosa, sentei na mesma fileira que a minha mãe, e é óbvio que fiquei na janela, por que não sou boba nem nada né. Quando o avião começou a subir eu pensei “Jesus amado nos abençoe, não posso morrer sou muito nova”, não pensei que ia ficar com tanto medo, mas acredito que esse medo tenha aparecido na hora, pelo simples fato de eu estar na janela e vendo uma parte da asa no avião se mexer, curiosa e com medo perguntei pra aeromoça se era normal e ela falou que era, fiquei mais tranquila e tomei alguns copos de água para ficar calma. Fora isso, minha primeira vez de avião foi ótima, eu só vomitei na volta, mas pra que mais história né….
Eloysa Bregalda
Ai que nervoso!
O sol quase nem mais aparecia na minha janela, a suculenta que eu deixava pegando sol já tinha desistido de procurar o sol naquela hora, já estava murcha. Um copo, que dois segundos atrás estava cheio de água, era posto, completamente seco, na escrivaninha. Por mais que o sol já tivesse se posto e o quarto estivesse lotado de plantas ( eu li uma vez na capa de uma revista que plantas deixam os ambientes úmidos e frios, e, por mais que não tivesse certeza, acreditava fielmente naquele recorte) nunca havia sentido tanto calor. Minha garganta continuava seca, mesmo depois dos três copos que foram bebidos de uma vez só, sem nem sentir o gosto dela ( todo mundo sabe que água tem gosto). Estava suando frio, estava nervoso, ansioso. Minha mãe já deveria ter chegado nesse horário. Justo hoje ela tinha que se atrasar? O sol já estava quase roxo quando ela chegou. Chegou! Chegou! Desci correndo, quase tropecei na escada. Ela se assustou comigo tombando os pés nos degraus da escada com força e velocidade. Se encararam. A voz tremida deu um ar de alguma palavra parecida um oi. A voz mais fraca ainda falou de uma festa. Que?Tive que repetir, agora mais alto e confiante, ou pelo menos precisava parecer mais confiante. Tem uma festa, disse a voz trêmula. A outra voz, agora com autoridade, respondeu apenas um “sim”. Um sim? Tão fácil assim? Sim. Como se fosse um nada, apenas mais uma palavra entre tantas outras. Agora, para ninguém mudar de ideia, ajudou a arrumar a mesa, tirar a mesa, escovar os dentes e dormir às nove.
Uma semana depois, nem podia acreditar que era o dia. Acordei cedo, já faz uma semana, logo era dia 9, dia da festa.. meu deus nem podia acreditar. Tomei um banho, o mais rápido e melhor o possível que eu pude ( acho que esse podia ser o meu bordão “ melhor possível”, ai sei lá gosto dele). Eu vou com esse casaco, lindo, verde coisa mais linda, calça jeans… ‘tcharam’, perfeito! Passei perfume, ele tinha o cheiro daqueles bem básicos de menino, sabe? Mas era mais doce, não sei explicar, ficava bom em mim. Estava pronto, meia hora antes, da meia hora antes da festa, quando o Rafa vinha me buscar, nem me sentei direito.. pra não amassar o casaco que na minha cabeça era como papel, amassava com um toque. Mexia no celular rapidamente, enquanto jogava um jogo para tentar disfarçar e diminuir meu nervosismo, checava a cada 5 minutos o whats pra ver se a mensagem tão esperada “ t^ saindo” tinha chegado… talvez a minha mensagem estivesse presa na estratosfera, num satélite, dentre os milhares de satélites, talvez a minha mensagem tivesse sido confundida e enviada para algum outro celular.. e se a minha mensagem de felicidade estivesse nos braços de um outro qualquer. Uma buzina aguda, alta. Era Rafael, com um sorriso de orelha a orelha. A minha suspeita estava certa, minha mensagem foi embaralhada entre outras. Fui, e a festa como foi? Ah foi ótima, nem me lembro.
Vitor Redivo